
Para garantir a proteção legal de adolescentes migrantes que chegam ao Brasil sem a companhia de seus responsáveis, o Tribunal de Justiça de Roraima (TJRR), por meio da Corregedoria-Geral de Justiça, realizou nesta terça-feira (30) uma reunião para a instalação de um Grupo de Trabalho sobre a emancipação de imigrantes desacompanhados ou separados.
O corregedor-geral de Justiça, desembargador Erick Linhares, destacou que a criação do grupo busca assegurar que o Judiciário volte seu olhar para os migrantes que chegam ao país e encontre caminhos viáveis para oferecer o melhor atendimento.
“O nosso Tribunal tem, desde o início, uma preocupação com a questão social. Por isso, precisamos construir soluções dialogadas, conversar com todos os envolvidos e buscar o melhor caminho. É o que estamos fazendo aqui com a questão dos migrantes. A ideia desse grupo de trabalho é criar um fluxo de atuação para os adolescentes que venham desacompanhados, que já sejam casados ou emancipados, para que possam ser interiorizados e tenham plena garantia de seus direitos.”
O encontro reuniu representantes de órgãos nacionais e internacionais ligados à proteção de crianças, adolescentes e migrantes, como a Coordenadoria da Infância e Juventude (CIJ/TJRR), o Ministério da Justiça e Segurança Pública, a Defensoria Pública Estadual (DPE/RR), a Polícia Federal, o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), a Organização Internacional para as Migrações (OIM), a Associação Voluntários para o Serviço Internacional Brasil (AVSI Brasil) e entidades locais de assistência social.
Entre os principais pontos debatidos estiveram:
- Apresentação do fluxograma da Recomendação nº 1/2025, que organiza os passos do processo de emancipação;
- Disponibilização do Cadastro de Atendimento Multidisciplinar (CAM) pela DPE;
- Tradução de documentos essenciais, com apoio da Univale;
- Definição de responsabilidades sobre o Formulário de Avaliação Psicossocial (FAP) e participação do Ministério Público;
- Realização de audiências específicas sobre guarda, emancipação e união estável;
- Elaboração de minuta de Acordo de Cooperação Técnica (ACT) com a Operação Acolhida.
O general da Operação Acolhida reforçou que a celeridade nos processos é essencial para evitar o represamento de adolescentes em Pacaraima:
“Esse grupo de trabalho é fundamental para que a documentação saia no prazo mais curto possível. Assim, conseguimos garantir dignidade a esses jovens e permitir que sigam suas vidas, seja no interior do Brasil ou em outros estados.”
Já a representante do Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Niusarete Lima, ressaltou a importância da cooperação interinstitucional:
“Quanto mais trabalhamos em conjunto, mais fortalecemos a proteção social, sobretudo de crianças e adolescentes migrantes. O grupo vem estreitar laços entre os parceiros e ampliar a capacidade de resposta diante dos fluxos migratórios.”
Com a instalação do grupo de trabalho, o TJRR busca consolidar medidas práticas para assegurar que crianças e adolescentes migrantes tenham seus direitos reconhecidos com rapidez e em conformidade com normas internacionais de proteção. A expectativa é que, nos próximos meses, seja concluída a minuta de um Acordo de Cooperação Técnica, formalizando a parceria entre as instituições envolvidas.
COMO FUNCIONA A EMANCIPAÇÃO
O procedimento foi desenhado para oferecer agilidade e segurança a adolescentes que chegam desacompanhados, evitando longas permanências em abrigos e situações de vulnerabilidade.
Quando o jovem chega a Roraima sem os pais ou responsáveis, mas já vive em união estável, é casado ou tem filhos, o Judiciário analisa a configuração dessa “família de fato”. Nessas circunstâncias, a emancipação pode ser concedida, assegurando autonomia legal e permitindo que o adolescente acompanhe o parceiro e os filhos em processos de interiorização para outros estados.
“Chegam muitos jovens, desacompanhados dos pais, já em união estável, casados, muitos até com filhos. Nesses casos, é preciso reconhecer a família de fato. Se o rapaz de 18 anos pode ser interiorizado e a parceira de 16 não, cabe ao Judiciário conceder a emancipação para que sigam juntos. O Estado deve olhar para a realidade e construir soluções, mesmo quando a lei não prevê todos os caminhos”, explicou o corregedor-geral de Justiça, desembargador Erick Linhares.
A meta é que a documentação e a emancipação sejam concluídas no menor prazo possível, garantindo dignidade, preservação dos vínculos familiares e condições de reintegração social para esses jovens no Brasil.
PRIMEIRO CASO DE EMANCIPAÇÃO
O Tribunal de Justiça de Roraima já analisou e concedeu o primeiro caso de emancipação de adolescente migrante desacompanhado. A decisão envolveu um jovem de 16 anos que vivia em união estável com uma companheira de 18 anos. Ele estava acolhido em uma casa-lar de Pacaraima, enquanto seus pais, residentes na Venezuela, tinham ciência da situação e autorizaram sua permanência no município.
Segundo o juiz titular da Comarca de Pacaraima, Phillip Barbieux, a parceira do jovem desejava se deslocar para São Paulo, onde residia sua família, e buscava levar o companheiro. Dessa forma, a emancipação foi avaliada como o caminho jurídico mais adequado para preservar o vínculo familiar e permitir a interiorização conjunta.
“O caso trata-se de uma emancipação de um jovem de 16 anos que já coabitava com uma menina de 18 anos. Ele estava na casa-lar de Pacaraima, e ela queria se deslocar para São Paulo para estar com a família e permanecer ao lado dele. Nesse caso, ele apenas precisaria de autorização judicial para a emancipação. A situação foi analisada e fundamentada no Provimento nº 4 da Corregedoria do TJRR, que prevê a aplicação da emancipação. Assim, foi possível e juridicamente viável a concessão da medida, com base na legislação e no provimento indicado.”
A decisão abre precedente para que situações semelhantes sejam tratadas com celeridade e segurança, reforçando a importância do grupo de trabalho instalado pelo TJRR na construção de soluções voltadas à proteção de adolescentes migrantes desacompanhados.
A matéria possui uma foto. A seguir a descrição:
Foto 1: Foto colorida mostra uma mesa solene composta por seis pessoas sentadas, participando de um evento institucional em uma sala da Escola do Poder Judiciário de Roraima.
Texto: Mairon Compagnon - Jornalista
Fotos: NUCRI/TJRR
OUTUBRO/2025 - NUCRI/TJRR
Fotos: NUCRI/TJRR
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